segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

sábado, 26 de abril de 2008

DE POESIAS E PENSAMENTOS

Como é bom escrever e transmitir aos outros o que pensamos e sentimos, poder olhar para trás e ver o que fomos e o que poderemos ser. O poema revela um pouco de nós, mas também as marcas do nosso tempo, os dilemas de nossa época, os ideais com os quais nos vinculamos – porque desejamos apaixonadamente a vida!
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POESIAS:
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Porto Seguro

Nesta noite eu vejo terminar um período longo de minha vida,
Em que eu ainda trazia muito próximo a infância.
A presença da minha avó, sem que eu percebesse,
Ou, eu via isso muito bem, representava para mim
o amparo,
o afeto.
Como eu fui feliz!
Sua casa era o meu esconderijo, o meu chão.
A paz sempre esteve lá porque o seu coração nunca teve tamanho.
Querida avó, você parte sem eu vê-la,
Sem eu tocar suas mãos,
Mas eu sempre irei amá-la.
nov/1999

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A Viagem

Está frio, que saudade do mar!
O mar que de salgado parece doce,
doce ao me levar!

Mas, nesta cama que eu me abandono
posso me dar conta de mim.
Aqui, percebo que
só consigo ser livre,
quando supero meu pequeno
mundo mesquinho e privado.

Por que deixar minhas frustrações ocupar o cenário,
Quando a arte e a filosofia lampejam com sua beleza?
Quantas viagens posso fazer por esse mar!
Jan/2000

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Dona Natalina.

Há uma mulher que se vai.
Serena e tranqüila em
Seu descanso eterno.

Há uma mulher que se vai,
Com sua história
Bonita, sofrida, vivida.

Lá se vai uma senhora menina
Dizendo em seu silêncio:
“Vocês estão vivos.
Vivam, sem olhar para trás.
O mundo se faz pelos vivos.
Aos mortos cabe descansar,
Pois já teve história pra contar”.

A senhora menina que se vai
Nos empurra para a vida
Pela sabedoria que deixou:
Viúva, moça trabalhou.
Fez coxinhas, fez bordados,
E os filhos sustentou.
O diálogo amigo garantiu
a eles ternura e amizade.
abril/2000

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Nosso Amor Perdido de Cada Dia

Enquanto olho minha indiferença
diante do amor que me mata,
penso no abandono do amor
de todos nós.

Estranho sentimento.
Sentindo a incapacidade da conquista
furta-se da entrega.
De antemão, silencia a paixão
fogo da alma, chama da vida.

Tristes homens contemporâneos
que somos!
Perdidos nas formas e nas cores,
aprisionados na alma retilínea,
sem brilho e sem tremor,
fugimos do amor como o diabo foge da cruz.

Não será o orgulho exacerbado
posando de feiticeiro entre o coração e a mente,
impedindo a liberdade de adentrar ao próprio peito?
Dez/2000


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A Busca Permanente

Oscilo sempre entre a paz e a alegria
entre o vulcão e a calmaria.
Posso recordar de mim
aflita, sem rumo.
Um tanto vazia, quase diante de uma vida sem sentido,
porque esgotada, porque oprimida.
Mas o amor eu busquei,
não desisti.
Espiei ali,
me esbarrei, tropecei, não desisti.
Como será o amor?
Ele protege? Ele afaga?
Há tantas promessas acerca do amor!
Daí vem os enganos.
Aprendi que amor não é simplesmente uma escolha,
não é investimento, nem camisa de forças.
O amor não se compra,
porque é um modificar-se permanente,
é revolução interior.
Quem o descobre tem a alma leve,
a felicidade brilha nos olhos e sai pelos poros.
Amor é prazer em dar e receber,
é coração aberto, porque encontrou a liberdade.
Março/2001


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Na volta de Joaquim Felício

O que pode existir de mais belo
quando nossos olhos miram as serras
no momento em que
as rodas do carro não param
e o motorista silencia?
O caminho parece infinito
e os olhos se distraem
em meio a tantos verdes.
Na imensidão do tempo me sinto mergulhar na paz
e percebo o quanto mudei!
Ago/2001


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Aniversário

Passaram-se 24 dias do meu aniversário,
tempo suficiente para reconhecer a importância
da sua comemoração.
Inevitavelmente olho para trás,
julgamentos sobre a própria vida aparecem.
Nesses últimos anos acabei me tornando
Vigia dos meus passos
num ato desesperado para me tornar melhor como pessoa.
Travei uma guerra para não me conformar
om a vida como ela está.
Por isso, a paixão pela vida tem sido vitoriosa.
Mas não teria sido se não existissem as pessoas que eu amo.
Em maior ou menor grau, vêm se mantendo presentes.
Por isso, a chama não se apaga.
Março/2002

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Breve expressão sobre o amor

Sofro em silêncio por amor,
depuro os meus erros e
dispo-me de minhas grandezas.
Enfim, preciso de ti!
preciso do teu beijo e dos teus olhos,
das mãos que percorrem os meus cabelos.
Já não é possível sustentar os meus pés,
pois faltam-me as tuas palavras!
Minha vida ficou vazia e aguarda
as cores do teu sorriso.
Nov/2002

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Parati

Estou extremamente feliz!
Olhando as águas de Parati
descobri que tenho o mundo dentro de mim.
Sou apaixonada pelas serras
e pelas mãos que fizeram os barcos,
pelas nuvens que, também, às vezes, cobrem o sol.

Percebi que tenho o mundo dentro de mim
pelas histórias que conheço [da história geral
à história de todos nós].
As músicas que encantam minh’alma
transformam a existência em palavras [trazem
à consciência o sentido da vida].
Viver é ganhar liberdade –
Não é apenas aventura ou entrega ao prazer –
[Liberdade] é encontro com os outros.

Trago o mundo dentro de mim
porque não estou só.
E por isso vou ao infinito.
Jul/2003

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Segredo

Moço bonito,
Ouça esse pedido,
De quem se encanta com teu coração.

Quanta beleza guardas contigo!
Não esconda, não!

Homem poeta, poeta menino,
faz uma festa com seus versos
para alegrar a cidade!

Depois me dê outro beijo e
retire os meus pés do chão.
janeiro/2008
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PENSAMENTOS:


Sempre que é possível costumamos colocar a cabeça no travesseiro para pensar no que aprendemos com a vida. Algumas reflexões podem ir de encontro aos outros porque diz respeito a interesses comuns – imagino – por isso são expostas aqui.
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Sobre o amor:

Ainda existe a idéia de que a relação sexual ou afetiva deve existir por servidão. A pessoa carente pensa que o outro deve estar disponível para os seus desejos. Desconsidera, por isso, a atração natural que acende o sentimento através de um olhar mais atrevido, de um gesto afetuoso, de uma palavra atenciosa e amiga. Este indivíduo, portanto, desconhece a relação afetiva, e por isso, incapaz de estabelecer um vínculo, uma responsabilidade com o outro. A relação é quase um negócio. Pago ou não, o que prevalece é a prestação de serviço, já que não existe o verdadeiro desejo pelo outro, mas apenas a disponibilidade para concretizar o prazer, reduzido ao prazer físico. Pobre ser desconhece o prazer total de amar e ser amado, de desejar e ser desejado, acolher e ser acolhido. Constitui-se apenas numa carcaça sem interioridade.

O amor é esse sentimento que impulsiona à entrega, ao encontro, movido pelo desejo de ficar colado ao outro pela falta que ele nos proporciona: enfim, reconhece e murmura “preciso de ti”, “existe carência em mim”. A aproximação, contudo, não é suficiente para garantir a sua efetivação. O outro também precisa corresponder ao desejo, é necessário esforço para superar as diferenças e o respeito para aceitar ser diferente.

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Sobre a educação:

Dentre muitos lugares agradáveis do mundo, a escola primária ocupa certamente um cantinho especial. O dia a dia de trabalho para o professor parece infernal: gritos, brigas, corre-corre, choros... mas os sorrisos matreiros, os abraços, as perguntas curiosas, as brincadeiras, o canto, a bola representam mais que o desgaste emocional.
Escola é espaço de briga e alegria – sem “briga” não se faz homens. “Briga” (no sentido de chamar a atenção da criança) é o momento certo da chamada de atenção mais dura, quando o diálogo por si só não foi convincente. É um esforço permanente, pois é um leque gigantesco de individualidades que precisam conviver na diferença sem passar por cima do outro, enfim, desenvolver as virtudes.


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Sobre a luta pelos nossos ideais:

Se não damos um passo para nos dedicar à atividade transformadora, negamos na prática tudo aquilo que defendemos no discurso. E com isso, negamos a possibilidade do auto-revolucionamento, ou a capacidade de nos modificar como pessoa.

Viver a comunidade humana, ou a comunidade social, transitar para uma sociedade sem mercado, gerida pela auto-determinação do homem, sem a intermediação do estado se configura como utopia, pois, concretamente, há uma recusa literal de encarnar esses princípios na própria vida. Não é a sociedade que destroça nossos ideais, mas nós mesmos os destroçamos na medida em que corrompemos nossos valores, na medida em que cedemos e aderimos a uma dada forma de ser social: assim, ocupa o espaço da prática e da reflexão humana a auto-piedade, o culto do próprio ego, as conversas superficiais acerca de banalidades, os prazeres fúteis, o exercício da desqualificação alheia (o outro sempre é visto como ser inferior e débil, ser desprezível incapaz de estabelecer diálogo com o cérebro brilhante). Assim, vemos aí a reprodução do sistema, pois o que se estabelece nas relações singulares é a reprodução da hierarquia social entre aqueles que julgam ter o poder do conhecimento e os outros pobres mortais que devem se curvar e cumprir as ordens estabelecidas pelos que “sabem”.

Retomei uma reflexão antiga: re-descobri que a felicidade é resistência para concretizar a revolução humana. Temos que combater a tristeza com veemência, pois ela amarra o corpo e o espírito e pesa no corpo como cem toneladas. A felicidade traz luz para os olhos e abre a alma para o futuro.

Se queremos trilhar um novo caminho devemos começar já por refazer o nosso espírito. Primeiro é preciso se desfazer de toda arrogância e se permitir ser invadido pela simplicidade: reconhecer nos outros a mesma capacidade intelectiva e humana. É certo que é prudente não confiar integralmente, pois alguns tipos de homens traem com muita facilidade – pelo usufruto de um bom vinho, um terno importado, um carro blindado são capazes de forjar as mais belas palavras enquanto praticam atos deletérios. Mas a simplicidade nos leva a querer aprender com o outro.
Além disso, a simplicidade traz um ajuste interior, um equilíbrio: não ser mais nem menos, apenas ser. Este assentamento permite o conforto na alma, pois fica bem consigo mesmo. Por isso pode reconhecer no outro o seu interlocutor – diálogo fundamental para recomeçar.
Não é possível falar do humano se eu não me humanizo. E só me humanizo se me relaciono com os outros.

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Reflexão sobre as relações:

Vivemos um tempo em que o diálogo fica cada vez mais difícil, porque as pessoas não se entendem, há muitas desconfianças nos gestos mais simples, não somente porque o ritmo de vida desta sociedade nos leva à desagregação e contraposição de uns aos outros. Diante das dificuldades do diálogo aprendi que é preciso aprender o tempo certo para falar, é preciso aproveitar a oportunidade, a ocasião para apresentar propostas e o próprio ponto de vista, para que o outro não se sinta “atropelado” e aceite se envolver com a idéia. O ser humano hoje precisa se sentir “grande”, o “mandante”, são muito “egos” impondo o seu modo de ser e encaminhar os trabalhos. Desse modo, torna-se prudente aproveitar as oportunidades e fazer as críticas no momento certo. A crítica direta hoje não está contribuindo para o salto de qualidade. Ela é necessária, mas corro o risco de ficar na esfera de uma palavra contra a outra e não chegar a lugar nenhum.

DE POESIAS E PENSAMENTOS

Como é bom escrever e transmitir aos outros o que pensamos e sentimos, poder olhar para trás e ver o que fomos e o que poderemos ser. O poema revela um pouco de nós, mas também as marcas do nosso tempo, os dilemas de nossa época, os ideais com os quais nos vinculamos – porque desejamos apaixonadamente a vida!